segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O TEMPO ( Benfica do Ribatejo)



Há sol? Senta-se no banco do quintal. Vai-se a luz quente? Põe achas na lareira. E é esta roda viva diária que arranca do velho avieiro, em pleno Janeiro, o seguinte desabafo:

 - Nunca vi verão assim!

- E eu ainda não perdi a fé que chova - diz a ministra.

AO ROBALO ( Cova do Vapor)

 

Para ela há duas coisas indispensáveis dentro de casa: uma tablete de chocolates e uma jarra com flores em cima da mesa da sala de jantar.

 Para ele, um igual número de coisas imprescindíveis, mas fora de casa: haver nuvens e nunca vir a esquecer-se da câmara quando sai para fotografar…


sábado, 25 de fevereiro de 2012

PONTE 25 DE ABRIL

PORTO ALTO


Imitar o pai é que não. E desandou para outra vida. Que aquele cais parecia tão capaz de o prender a si como a qualquer  embarcação que nele ancorasse. A partir daí, adeus: embalos de água, arremessos e remendos de rede, nunca mais…

E casou de forma tão esperada como a vide aguarda pela poda no momento próprio, semeando daí a pouco um filho.

O que ele não contava foi com a necessidade de retornar à pesca, mercê do desemprego. Um contratempo ao qual se associou outro: ter que persuadir a jovem mulher a acompanhá-lo na faina do rio...

Entretanto, e ao que consta na aldeia, desde há muito que não se via o seu progenitor tão contente. E a beber mais do que o costume. Para festejar devidamente o acontecimento.

LUSITANO


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

CONVITE


20  sentados
38  de pé

O elétrico é como um álbum fotográfico com mil retratos de personagens de Lisboa. Como os reformados ocupando os existentes 20 lugares sentados; os jovens, dobrados pelo sono pesado da mochila às costas, de caminho para a Escola; os pares de enamorados trocando, entre si, adivinháveis promessas ilusórias de amor eterno...
Variada gente, mais triste do que alegre, que se desloca no amarelo como peixe fora de água, sem esconder a apreensão pelo aumento dos passes e de outros custos que se pagam em vida. Por norma, sempre alheios à campainha que o guarda-freio faz retinir, qual piloto ao leme nos dias de nevoeiro no Tejo…
O elétrico com a imagem de um pendura ou de um cacho deles, encavalitado na popa do carro, aos solavancos, por ruas, largos, praças e velhas calçadas… Ou mesmo de uma fadista, trilhando o xaile com os dedos, enquanto canta, durante a maré de Junho que trás aos velhos bairros de Lisboa a sardinha assada, os cravos e os balões de rua.
E outros mais protagonistas viajeiros, como os pickpockets nos 38 lugares de pé:  saqueadores sobre carris, com chapéus de praia, usados em todas as estações do ano, e uma camisola estendida no braço como se estivesse a secar no arame…
Estes mestres do ilusionismo, fazendo evaporar, num ápice, a carteira a um camone. Incautos turistas que lhes apraz viajar à janela de um 28 ou de outra carreira, sem resistirem ao exercício da sua própria rapinagem de trechos da urbe:
uma panorâmica do rio a partir das Portas do Sol; um clichê à fachada da basílica da Estrela; um clique certeiro à pitoresca Graça; um justo disparo ao polémico São Bento…
Esta gente, de fora, mas com a qual me sinto, fotograficamente falando, mais próximo:
sempre que tomo uma paragem de elétrico qualquer como se tratasse de um cais de embarque para rever e fixar as gentes de Lisboa. Com a indispensável câmara!



SÃO OS SALGUEIROS...



São os salgueiros e aguardam…. Não pelas frias águas de Espanha que arrastam o peixe para longe, mas pelas chuvas que engrossam o rio e o trazem pelo caudal acima.

Só nesta altura é que hão de soltar as raízes da terra como as mandrágoras, mas sem um único grito...

E fazerem-se às águas, quais barcos engalanados para a festa.

MESTRE DO CACILHEIRO


Em vez do vai e vem de um baloiço, o inesperado estremecimento contínuo das madeiras e metais, a bulir com os nervos.

Em vez do penetrante cheiro à maresia, os vapores negros do gasóleo a entupirem as narinas.  

Em vez das vozes humanas, o compasso do motor a sacudir o coração e os tímpanos.

E assim se desfizera, num ápice, a imaginada ida e volta  até à outra Banda.

Claro que me recompus, mas insistir em sonhar repetir a travessia, nunca mais…

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

( Salvaterra de Magos)


O Tejo, a olho  nu, é sempre menos belo que a visão do Tejo na fotografia. De outro modo, por que haveria de ocupar as mãos com a câmara  em vez de as enterrar nos bolsos?

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

PORTO DA PALHA


E sempre que o Tejo ceifa a vida a um pescador, tarde ou cedo, acabará  por galgar as margens com as lágrimas vertidas pela mulher que ficou viúva.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

PARQUE DA RIBEIRINHA ( Samora Correia)


O que faltará às sombras dos salgueiros feitos troncos e ramos de água? Talvez a folhagem. Ou tão só  desatarem as suas raízes da terra, abandonado-se aos caprichos da corrente errante!

VALA DE SALVATERRA DE MAGOS


Eu é que fecundo as éguas, e não o vento! E piso as flores. E relincho, celebrando a chegada da Primavera.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

SOBRE UMA FATURA DE 1989


A fatura data de 1989 e cheira como um trapo velho, a mofo. Mas ainda se retira dela o nome de um tal  Hermínio Vareiro Ramos,  retalhista  que, num certo dia de Verão, arrematou 180 Kgs de sardinha e 200 de carapau, tratando logo de conduzir o pescado ao  Mercado de Santarém.

E, se quisesse  ir mais longe na história deste homem, que largou a captura do peixe de rio para se prender à pesca  na Lota de Peniche, o caminho seria tão sinuoso como a vereda que nos conduz à que foi a sua casa implantada à borda de água, entretanto, quase desfeita.

Tinha viatura própria, e não pagava IVA. Mas tudo isto, que importância tem?

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Palhota


Todo o dia ensonado, acabei por me abandonar aos sonhos, enquanto caminhava.

Um dos mais singelos terá sido o do barco sobre a areia  e debaixo da chuva de ramos dos salgueiros.

Com o teu nome voltado do avesso!

GINJAL


O vinho evaporou-se dos barris e transformou-se em  nuvens lilases; os blocos de gelo deslizaram pelas rampas do cais, diluindo-se na água sem deixarem quaisquer vestígios; o carvão foi dispensado do trabalho das máquinas que acabaram por enferrujar; os iscos de pesca apodreceram.

Entretanto, as sardinhas, dentro das latas abriram as tampas e, ganhando asas, voaram para o mar alto. Todo o fogo, de súbito, deixou de arder e, pouco tempo depois,  nunca mais se viu passar pelos olhos uma fragata ou um varino. Como se tivéssemos cegado para sempre!

 Foi então que apareceram os roedores, determinados em construírem um universo labiríntico de galerias de modo a que nenhum intruso, ao entrar nelas, alguma vez saísse…

E, ao que consta, foram bem sucedidos tal como as pombas obstinadas em  arrancarem, uma a uma, as telhas dos telhados dos armazéns ribeirinhos!



sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

LISBOA



Com este lápis se escreve uma página sobre Lisboa a preto e branco!



BOCA DO VENTO ( Almada)

PORTO DAS MULHERES ( Chamusca)

PORTO DA COURELA ( Almeirim)




Serpenteando pelo rio, o que procuram é interromper o seu curso natural. Enquanto isso, vão devorando as raízes dos salgueiros e cavando sulcos no fundo da água como se fosse em terra.

Segundo alguns nativos, encarnam os espíritos terríficos das correntes fluviais que são muito difíceis de expulsar…

Como certos pesadelos!

Número total de visualizações de páginas