domingo, 14 de abril de 2013

Paisagem Fluvial



Mal entrou no rio, pôs-se a sulcar as areias do fundo, removendo seixos e limos, numa contínua caminhada em direcção à foz. 

Daí prosseguiu num passo obstinado pelo oceano adentro até, já dado como desaparecida há muito, acabar por ressurgir no areal de uma ilha do pacífico, recoberta de anémonas, estrelas do mar e corais:

exactamente com a mesma idade que tinha quando se fizera ao rio. Sequer com um único dia a mais!


Cheias ( Pombalinho )



Como o pescador, ao seu lado, continuava a fazer-lhe uma concorrência sem tréguas, decidiu utilizá-lo como isco, empurrando-o para a água. Mas nem com isso, logrou atrair os peixes ao anzol.

Foi então que, ao sol posto, e depois de muito remoer sobre aquele dia tão azarado, tomou uma decisão: dedicar-se à fotografia. Até hoje!


quinta-feira, 11 de abril de 2013

Caneiras


Tapada



Enquanto a lebre acaba por jazer, imersa em redor da sua toca, a serpente logra trepar à macieira e ficar-se  à  espera da conversão da flor em maçã. Para tentar a Eva!

Foram inúmeras as cartas de correio entregues à mão em Reguengo de Alviela, a  3 de Abril de 2013. Mas apenas uma, a recebida pela Rosa, não impediu as cheias provocadas pelas suas lágrimas!

Apesar da filha ter pedido para que se deixasse filmar pela televisão, por forma a poder vê-la à hora do noticiário do jantar, a velha não deixa de gritar repetidas súplicas ao camerman:

“ Não me filme, não me filme, não me filme! Nem de costas! “



quarta-feira, 10 de abril de 2013

Parque do Tejo


Por todo o lado, o cheiro a peixe de água doce: nas vides já podadas; nas macieiras em flor; nos  lírios com os pés mergulhados nos charcos; nos campos de erva submersos…

Um cheiro que me suscita uma súbita lembrança da infância: uma mão cheia de enguias  contorcendo-se no fundo seco de um alguidar!



Deixam-se ir na corrente que galga, de uma à outra berma, o alcatrão da N114. E é aí que as carpas acabam por cair na armadilha de um camaroeiro manejado habilmente pelos homens, ou mesmo atingidas  pelos dentes de uma forquilha.

E poucas logram escapar à zona de morte, salvo as que antevendo a ameaça da cilada, dão às barbatanas, levantando voo sobre as cheias da lezíria.

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