domingo, 5 de abril de 2015

Dada a ordem aos caminhantes



                                       Ao amigo António Marrachinho


Dada a ordem aos caminhantes de estacarem, ainda presumi que tal se devesse à súbita aparição de um arguto felino de médio porte, de um réptil a digerir um incauto roedor ou à ameaça de uma ave de rapina a picar sobre as nossas inocentes cabeças; mas sequer de uma ibis, garça real, pernilongo ou esquadrão de esbeltos e rosáceos flamingos se tratava.

O objecto causador daquele stop instantâneo, não passava afinal de uma ave minúscula a que o guia deu nome, sacudindo-se no topo de um caniço e que o contraluz tornava impossível de vislumbrar a cor da sua plumagem.

Mas fosse qual fosse a espécie, a sua estatura era tão minorca como o mais comum dos pardais que, a par das flosas, pintassilgos, piscos e toutinegras, foram alvo da minha mira certeira juvenil: tanto à fisga como à pressão de ar, que o uso de armadilhas, com a formiga de asa como isco, não dava comigo.

Tão amante fervoroso de imaginários safaris, quanto vil opositor de subtis dietas vegetarianas, como poderia hoje ceder ao exercício ascético e contemplativo das avezinhas, em detrimento de uns passarinhos na frigideira, temperados com azeite, sal, alhinho e louro?

Mesmo que tenham feito “os ninhos com mil cuidados”, para o odioso selvagem que fui, tarde demais!


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