quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Reserva Natural do Tejo



Mas o que ocultaria a cave para o pai a proibir de levar lá fosse quem fosse? Para mim, que chegava a dar crédito às minhas próprias fantasias, teias peçonhentas de aranhas, infestados roedores, lagartos e rãs embalsamados e talvez mesmo uma porção de esqueletos pendurados nas paredes, escarnecendo da imortalidade.

O mistério haveria, porém, por ser desvendado   quando a amiga, não resistindo à tentação da proibida dentada na maçã,  à luz de poucas velas,  acabou por abrir a porta da cave:

Afinal, um pequeno cubículo onde se apinhavam caixas e caixas de cartão, réguas, uma guilhotina, frascos, tinas, pastas de arquivos e, em cima de uma bancada, um estranho aparelho cuja serventia ignorava.

O que mais relembro, porém, foi aquele momento mágico do finíssimo pincel manejado pela amiga sob uma lupa, avermelhando as flores e o telhado de um casebre; azulando o céu e branquejando as acinzentadas nuvens; colorindo esplendorosamente de verde os campos de uma foto, a preto e branco, tirada pelo pai.



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