Bateu-me à porta para se queixar do cartão de memória
danificado, e da perda irremediável das fotos, as melhores que tirara em toda a
vida.
Conhecendo a pessoa que, por norma, dispensa ouvir o outro, limitei-me a esboçar uma breve careta adequada à situação prevendo que,
deste modo, pouparia tempo aos dois…
Ao despedimo-nos, porém, fui sacudido pela lembrança
de uma fatalidade que nunca hei de relatar a ninguém:
a convicção de ter feito, em tempos, um conjunto excepcional
de imagens, dando conta da falta de rolo na câmara um dia depois!
E o que eu carpi, inconsolado, sobretudo em relação à foto verdadeiramente digna de figurar na mais
prestigiada antologia: a do cavalo!
Sim, a de um lusitano que, por súbito capricho da bela
amazona que o montava, se viu obrigado a estacar num charco de água, salpicando
tudo em volta, incluindo a objectiva da câmara, certificando, assim, o instante da acção do fotógrafo na captação da cena.
Desde então, deixei de alimentar quaisquer
expectativas de repetir tal proeza, contentando-me com uma ou outra foto ligeiramente acima da mediania.
Entretanto, fica por explicar por que as imagens perdidas são sempre as melhores.
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