A areia já começara a pesar-lhe tanto que, durante um certo
pôr de sol, acabou por decidir não levantar mais o fundo chato do lodo, e apenas
dedicar-se a alimentar os numerosos cardumes
que dele se abeiravam.
Com quê? Ora, com o que mantinha até então como intrinsecamente
seu:
cavilhas e pregos enferrujados; pedaços de madeira arrancados
pelas ondas; fibras de cabos, cacos de vidro, plásticos, pneus, crostas de óleo,
tubagens… E tudo isto e o mais com um sabor a sal e algas.
E como a felicidade não se cumpre em lado algum, pode dizer-se que nunca se sentiu
desafortunado, perseguindo-o apenas uma dúvida quando já nada restasse de si:
Para onde é que haveria de encomendar a sua alma?
Para onde é que haveria de encomendar a sua alma?
Às goelas de uma robusta garoupa, como uma grande iguaria, ou deixá-la prosaicamente sepultada na lama?
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