Quando a duração dos dias ainda não tinha conhecido a
significativa redução horária como actualmente, mal se levantava da cama voava
até à varanda para inspeccionar o céu. Então, era assim:
Acaso se mostrasse povoado de nuvens, sem cuidar de
lavar os dentes, corria logo para a rua, com a câmara ao peito e uma peça de fruta tragada às dentadas.
Se o número de nuvens fosse reduzido e com sinais de
se volatilizarem muito em breve, saía de casa, sim, mas sem pressa,
dedicando largo tempo, quer ao pequeno almoço, quer à higiene pessoal.
À ausência plena de nuvens, prescindia tanto do repasto
matinal, como de puxar o autoclismo, atirando-se prontamente para a cama, esperançado em dar continuidade a certos sonhos abruptamente interrompidos
pelo despertador.
Há quem diga que, pousando a câmara debaixo da cama,
lhe pedia desculpa pelo mau tempo, prometendo-lhe sempre um dia seguinte auspicioso.
nestes dias - escassos, é verdade... - é bom que se dedique por inteiro à escrita e guarde definitivamente a câmara debaixo da cama. desconfio que a escriat flue melhor em noites de luar e com uma loirinha ou negrita a deixar um travo de anestesia suave na memória do futuro e nos lábios, está bom de ver...
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