Esgotara a possibilidade de inventar uma desculpa nova
aos seus insistentes pedidos para a fotografar.
A falta inadvertida do rolo na câmara ou de um cenário
pouco condizente para fundo do retrato já não colava, e o argumento da luz se
mostrar demasiado dura era má ideia repeti-lo, sobretudo nos dias enevoados.
Volvida a idade
da dor de dentes, também não se lhe afigurava sensato evocar uma pulpite, e a evasiva de ser acometido por uma inesperada cefaleia
parecia-lhe de péssimo gosto.
Apesar de tudo, às suas inúmeras e cada vez mais
embaraçosas escusas, nunca abandonara a obsessiva esperança de vir a ser
fotografada pelo sobrinho, sequer a crença dele se tornar num prestigiado
fotógrafo.
Hoje, porém, exactamente à hora em que acabara
de rever, espreguiçado no sofá, o Kilas o Mau da Fita, um parente informava-o
pelo telefone do súbito falecimento da
tia há minutos atrás…
Então levantou-se, pegou na câmara, pousada em cima do
frigorífico, e saiu para fazer uma série de retratos à tia, com o propósito de
seleccionar apenas um: o que lhe parecesse o mais sorridente do conjunto.
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