terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Aos seis anos já fotografava.


Aos seis anos já fotografava! Ou terá sido durante a sua nutrição na placenta? Certo é que mencionar no currículo a tão precoce vocação, impressiona tanto ou mais do que um certificado do seu talento.



terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Quando levantei a câmara para o céu


DEDICADO AO AMIGO CAMINHADOR ANTÓNIO FAZERES


Quando levantei a câmara para o céu, nem queria acreditar: uma carocha tão minúscula como uma escama de caspa, em desatinadas corridas pelo relevo das nuvens, entenda-se, por uma das superfícies óticas da nikon. Mas qual? Talvez pela objetiva, foi o que me ocorreu.

Mas quando me fixei na observação da lente, logo me apercebi de como aquela suposição se revelara infrutífera. Salpicada por uma ou outra partícula de pó, nenhuma delas poderia passar por um organismo vivo e, de mais a mais, tão animado como um daqueles vorazes glutões que entram nos jogos eletrónicos.

Mas por que não terei optado, de imediato, pelo visor da câmara, terreno, porventura, bem mais propício ao acolhimento daquele ser quase imperceptível?

O certo, é que também aí, não encontrei o mais ténue sinal de vida.

Que diabo, exclamei, enquanto admitia que algum sopro de ar ou gesto meu tivesse já sacudido aquele monstro para o cosmos abissal da Avenida da Ribeira das Naus por onde me passeava com a câmara.

E para me certificar da validade desta hipótese, voltei a apontar a máquina para as nuvens, acabando por deparar com a presença do animal, ainda mais elétrico do que antes, descrevendo circuitos retilínios em todas as direções como se intentasse despistar um obstinado perseguidor.

Eureka! Mas por que não me tinha ocorrido inspecionar prioritariamente a lente traseira da 28mm ?

Mal contendo a ânsia de esmagar aquele vil hospedeiro, tinha por certo que, desta vez, haveria de acertar na muche. A verdade é que, de novo, as expectativas saíram goradas.

Entretanto, com a minha impaciência a crescer  face às defraudadas buscas, cheguei mesmo a admitir que tudo não passasse de um animal, sim, mas acantonado estritamente na minha cabeça.

Mas não. Ao apontar de novo para o céu haveria por surpreender através do visor da câmara, aquele óvni a correr, estonteado, por entre as nuvens.

É então que saco a objetiva do corpo da câmara para analisar o espelho refletor e, de seguida, a tela translúcida onde, pasme-se, acabaria por surpreender uma espécie de poeira a rabiar de um lado para o outro.

Não havia dúvida. Tinha achado o animal. Era aquilo! E desta feita, só precisaria de desferir, com o dedo indicador umas cegas, contínuas e enraivecidas pancadas na tela despolida até o bicho ir ao tapete para nunca mais se levantar.

E foi o que fiz, após ter-me apercebido de que a acção de morticínio em vista, só poderia ser levada a cabo depois de remover cuidadosamente a tela, já que o dito micróbio se encontrava na sua face posterior. 

Finalmente, nunca como nesse dia, e após a operação de limpeza, as nuvens me pareceram tão convidativas a uma flutuação pelo ar. 

Assim como se faz com uma embarcação à vela, e o vento de feição.








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