terça-feira, 31 de julho de 2012

O Ernesto na Reserva Natural do Estuário do Tejo



Foi o cio que acabou por sujeitá-lo a três penas:

Às investidas do rival que não o poupou a enraivecidas e incisivas dentadas;

À privação de uma fêmea que ele tratava ingenuamente por Bem- Me- Quer.

E ao exílio forçado, com residência fixa, nas imediações de um guarda sol mais próprio para piqueniques estivais em terreno descampado.

Pior vida do que esta só, porventura, nos amores de perdição de Camilo!

Marinha do Canto


Marinha do Brito


Carlos Crisanto ( Salineiro )


Fernando Paulista ( Salineiro )


segunda-feira, 30 de julho de 2012

A FESTA ACABOU COMIGO



Não evitou aquele pensamento maligno: de se deixar abandonar definitivamente durante a intervenção cirúrgica a que seria sujeito daí a pouco.

Sim, porventura nunca se repetiria uma oportunidade como aquela: de interromper a carreira da vida, sob o efeito da anestesia, sem qualquer angústia ou mínima dor.

A verdade, é que no instante decisivo de se dar ou não a morrer, acabou por vacilar, o que lhe valeu uma saída da anestesia acompanhada por fragmentos negros de Horace McCoy na sua história, os cavalos também se abatem! 

E ainda com a sensação, algo exasperante, de não ter apenas perdido aquele dia como muitos outros futuros.

A não ser que venha a ter uma recaída, hipótese nada provável para o seu cirurgião!

Da Outra Banda


sexta-feira, 27 de julho de 2012

Poço do Bispo


Mal o navio embateu com estrondo no Poço do Bispo, meia dúzia de passageiros voaram como meteoros desnorteados sobre a água para nunca mais serem vistos.

Quanto aos demais, juntamente com os tripulantes, logo trataram de se pôr em fuga, não fosse o navio submergir como o Titanic.

As únicas almas que se mantiveram a bordo até hoje foram apenas duas:

a Milu que, farta de contracenar com o Tim Tim, embarcara  clandestinamente no navio em busca de outro estilo de vida; e o comandante que, no instante da  colisão, se mostrou incapaz  de evitar o derrame do  vodka na toalha da mesa.

Mas salvou o copo que enche e vaza, a um ritmo bem mais alucinante que  o regulado pela prea e baixa-mar.


quarta-feira, 25 de julho de 2012

Ao Vento...


Reflexo


Abel Pereira da Fonseca


Estuário do Tejo


A Bordo da Deolinda Maria


A Bordo da Deolinda Maria


A Bordo da Deolinda Maria


Travessia (II)


Tinha uma madeixa de cabelo à fuhrer sobre a testa, e dois incisivos em falta. Vivia bem disposto, e melhor ainda sempre que se punha a tocar acordeão. 

A bem dizer, nunca o surpreendi a franzir o sobrolho à vida, salvo em episódicas situações como quando aceitava a boleia do Xico para  ir ao mercado da vila. 

Aí, e durante todo o trajecto, especado no banco de trás, com a mão agarrada ao manípulo da porta, é que o seu ar se tornava um pouco solene:

“ A  mim, ninguém me apanha desprevenido…  Acaso  tenha  que vir a saltar pela porta fora para  salvar a pele, aí vou eu…”

E não vacilou em se lançar para a estrada, mais tarde, ao deparar-se com a iminência de um despiste e o pânico de vir a ser arrastado para o fundo da ravina.

O que deixou bastante confuso a meia dúzia de mirones que, entretanto, afluíra ao local do acidente, foi não deparar em seu redor com nenhum sinal do Vitorino, levando alguém a alvitrar: 

“ Mas que grande finório! Não havendo mais nada a fazer ao condutor, pôs-se a caminho da vila” 

Ao que outro, com ironia, acrescentou: 

“ A esta hora já deve estar abancado no Ti Flores a tocar acordeão”

E foi precisamente em cima desta suposição que todos se surpreenderam com o súbito, mas arrastado som plangente vindo debaixo da viatura:

era do acordeão que, sob a cabeça do Vitorino, parecia servir-lhe de almofada eterna.
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segunda-feira, 9 de julho de 2012

Torre


É provável que se alimentem de conchas e de seixos trazidos pela maré. Ou do lixo amontoado na margem. E, em chegada a Primavera, não poupem os malmequeres e as papoilas, pelo sabor de uma ementa mais exótica.


Ao leme do Alcatejo


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