quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Marginal da Ribeira das Naus




Esgotara a possibilidade de inventar uma desculpa nova aos seus insistentes pedidos para a fotografar.

A falta inadvertida do rolo na câmara ou de um cenário pouco condizente para fundo do retrato já não colava, e o argumento da luz se mostrar demasiado dura era má ideia repeti-lo, sobretudo nos dias enevoados.

Volvida  a idade da dor de dentes, também não se lhe afigurava  sensato evocar uma pulpite, e  a evasiva de ser acometido por uma inesperada cefaleia parecia-lhe de péssimo gosto.

Apesar de tudo, às suas inúmeras e cada vez mais embaraçosas escusas, nunca  abandonara  a obsessiva esperança de vir a ser fotografada pelo sobrinho, sequer a crença dele se tornar num prestigiado fotógrafo.

Hoje, porém, exactamente à hora em que acabara de rever, espreguiçado no sofá, o  Kilas o Mau da Fita, um parente  informava-o pelo  telefone do súbito falecimento da tia há minutos atrás…

Então levantou-se, pegou na câmara, pousada em cima do frigorífico, e saiu para fazer uma série de retratos à tia, com o propósito de seleccionar apenas um: o que lhe parecesse o mais sorridente do conjunto.

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